Crônica de um governo sitiado (2021–2024)

Ji-Paraná entrou em 2021 tentando acreditar em dias melhores. Saiu de 2024 tentando lembrar em qual operação estava. A gestão Isaú Fonseca não será lembrada por grandes obras, planejamento ou legado administrativo. Será lembrada pelo vai-e-vem de viaturas, mandados judiciais, coletivas policiais e afastamentos sucessivos. Um governo que pareceu administrar o município sempre sob investigação.

Logo em 2021, no auge da pandemia, quando a cidade precisava salvar vidas, veio a Operação Colapso, deflagrada pela Polícia Civil do Estado de Rondônia. O nome não foi exagero. A investigação revelou um esquema que poderia ter desviado mais de R$ 37 milhões da saúde, justamente quando hospitais enfrentavam falta de insumos, profissionais trabalhavam no limite e famílias enterravam seus mortos.
Se não fosse a intervenção policial, o colapso não teria sido apenas administrativo. Teria sido humano.

Veio 2022, e a promessa de normalidade nunca se concretizou. Dessa vez, quem bateu à porta foi a Polícia Federal, cumprindo mandados na Secretaria Municipal de Educação. O foco era um esquema milionário no transporte escolar rural, serviço essencial para garantir o direito básico de estudar, mas que acabou transformado em rota de contratos suspeitos, fraudes licitatórias e cifras infladas.

Essa investigação avançou e resultou na Operação Miragem, da Polícia Federal, expondo um esquema estruturado no transporte escolar. O que deveria ser política pública virou ilusão administrativa. Miragem, no sentido mais literal da palavra.

Então chegou 2023, o ano em que Ji-Paraná definitivamente entrou no mapa das páginas policiais. No dia 23, o prefeito foi afastado do cargo no âmbito da Operação Horizonte de Eventos, investigação conduzida pela Polícia Civil do Estado de Rondônia, por meio da DRACO II, que apurou irregularidades no contrato das lâmpadas de LED, com potencial prejuízo superior a R$ 17 milhões aos cofres públicos.

O afastamento não foi um gesto político, mas uma decisão judicial, determinada pelo desembargador Glodner Luiz Pauletto, do Tribunal de Justiça de Rondônia, diante da gravidade dos fatos e da necessidade de preservar a instrução processual.

A cidade precisava de luz. Quase ficou foi às escuras — não por falta de postes, mas pela sombra de um esquema que iluminou tudo o que não deveria.

Mas o roteiro parecia já escrito. Menos de 30 dias após ser reconduzido ao cargo, o prefeito foi novamente afastado.
Dessa vez, na Operação Arcana Revelada, também conduzida pela Polícia Civil, por meio da DRACO II, que investigou esquemas envolvendo a educação, especialmente pagamentos relacionados a precatórios no biênio educacional.

Foi um retorno relâmpago seguido de nova queda, como se o gabinete fosse uma cadeira instável, incapaz de sustentar qualquer permanência prolongada.

Encerrado o ciclo político entre 2021 e 2024, os fatos não desapareceram com o fim do mandato. Em 2025, especialmente nos meses de novembro e dezembro, aquilo que durante o governo vinha na forma de sirenes, operações e afastamentos passou a se materializar em relatórios técnicos, votos e responsabilizações formais.

O Tribunal de Contas do Estado de Rondônia começou a atribuir responsabilidades ao ex-prefeito e a diversos ex-secretários, apontando irregularidades graves, prejuízos ao erário e falhas estruturais herdadas daquele período. O barulho das viaturas deu lugar ao peso dos acórdãos.

O que antes era suspeita virou processo.
O que era discurso virou decisão técnica.
O que era narrativa virou número.

Epílogo

Entre 2021 e 2024, Ji-Paraná não viveu apenas uma gestão conturbada. Viveu um governo sitiado, pressionado por investigações sucessivas e afastamentos em série.

E quando o tempo passou, as instituições continuaram falando.

Polícia Civil. Polícia Federal. Tribunal de Justiça. Tribunal de Contas.

Porque, quando tantos órgãos diferentes batem repetidamente à mesma porta, o problema definitivamente não é a campainha.

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